segunda-feira, 21 de maio de 2012

Porto: Caloiros Praxados, Doutores Trajados e a Tuna!

Sei que está quase no fim do semestre, mas ainda dá tempo de falar sobre algo que é tão importante aqui no Porto. Aqui, o trote, diferente do Brasil, dura quase dois semestres e leva o nome de "praxe". Tudo é muito diferente e extremamente levado a sério. 

Em Porto eu estudo na Universidade Fernando Pessoa e logo nos primeiros dias, fui ver a praxe que estava acontecendo no campus, e aí ví o discurso um dos veteranos aos caloiros. Em um trecho ele disse: "Antes de querer conhecer os que estão de preto, preocupem-se em conhecer os que estão ao seu lado, pois estes é que seguirão com vocês na faculdade.". 

foto de Giuliana Ananias Wolf
Praxe em Setembro de 2011 na Universidade Fernando Pessoa




















Os "de preto" são os veteranos, e essa foto ilustra o porquê de eles serem chamados assim. Eles têm de se vestir com tipo um traje social (camisa branca, calça preta social, paletó - para os homens - e para as meninas, o mesmo, a diferença é que usam saia + meia-calça.), MAIS uma capa preta, que trás junto consigo muitas, muitas regras. Vou tentar colocar aqui algumas que eu já aprendi: 

1) ELA NUNCA DEVE SER LAVADA, NEM DURANTE, NEM APÓS A FACULDADE. NUNCA;
2) À noite, a capa deve estar traçada, para que fique impossível de se ver qualquer pedaço branco do traje;
3) Quando se está com a capa, não se usa guarda-chuva; 
4) Se você quer usar o traje um dia, tem que participar da praxe; Se quer praticar os "trotes", tem de a estar trajando;
5) Como dá pra ver pela na foto, essa capa é bem longa! E aí, como aqui em Portugal essa coisa de hierarquia é MUITO importante (e faz-se questão de mostrar isso a todo tempo), eles acharam um jeito também de mostrar o quão veteranos são: se a pessoa está na faculdade há um ano, pode dar uma volta na capa, se está há dois anos, duas voltas, e a ssim sucessivamente;
6) Depois de se tornar dourtor, pode-se usar a capa sem o traje por baixo. Assim, mais descontraído sabe, tipo jeans e capa;
+ Alguém sabe de mais outras? :)

foto de Giuliana Ananias Wolf
1ª Foto: Doutores à espera dos caloiros na FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto); 2ª: doutores em Coimbra na Universidade de Direito, posando para foto; 3ª: "sujeirinha" na capa do senhor doutor aí. Vai saber desde quando...


























E aí, rola toda uma dedicação. O legal é que tanto os doutores, quando os caloiros têm muito trabalho. Seja domingo com chuva, seja tarde ensolarada, eles estão lá, fazendo o que têm de fazer. Tem um respeito enorme que começa quando o caloiro não tem permissão de olhar nos olhos dos doutores, além disso, têm de carregar na bolsa uma camiseta que lhes foi entregue no começo do semestre (nela está o novo nome do bixo/bixete + o curso que está fazendo) e vestí-la sempre que mandarem. Logo no início do semestre passado, ví caloiros pedindo permissão para sair do campus para almoçar, e os que não pediam, eram questionados. 

Existe também outro tipo de praxe: aquela à quem quer pertencer à Tuna. Explico: tuna é tipo um coral que cada curso tem. Eles cantam, dançam participam de festivais competindo entre sí. Uma mistura de fado com o espírito acadêmico. Eu sempre imagino tipo um Glee português! <3 (Que ninguém de qualquer tuna leia isso hahaha)

doutores na feup 2011
Apresentações de Tunas

 Esse vídeo aqui embaixo eu fiz logo quando cheguei, era a Tuna de alguma faculdade (sorry, na época não pensei que colocaria isso em um blog...). Eles estão cantando e tocando, as capas estão ao chão (nunca lavarás tua capa, lembra-se?). Com certeza tudo isto estava bem organizado pelos caloiros, que, quando pretendem participar da Tuna, têm de fazer todo o trabalho de limpar, carregar e afinar os instrumentos, além de ensaiar. Aqui, a praxe pode durar até três anos, até que o caloiro se torne um "tuno". O engraçado é que às vezes (e na maioria delas), a pessoa já não é caloiro, mas na tuna ainda atua como se fosse, ou seja, é muito mais difícil entrar lá!




Esse segundo vídeo é da última apresentação que eu ví. Achei o máximo, era tipo um festival e várias tunas se apresentaram lá. Detalhe: os de chapéu e bengala são todos os que se formam ao final deste semestre. A cor da cartola varia de acordo com a cor do curso, assim como a da bengala. A tradição diz que quem se forma tem que levar quantas bengaladas quiser, e pode ir escolhendo os amigos, parentes, professores, ou seja, qualquer pessoa que tenha sido importante de alguma maneira. Tudo isso para dar sorte <3 Legal, né? 

Curiosidade: Porto é cheio de lendas, uma delas é que o traje usado para a série de filmes "Harry Potter" tenha sido inspirada no que os universitários usam cá, já que a autora dos livros morou aqui em Porto por muito tempo e é casada com um português.

+ Assim como no Brasil, onde existe quem se diverte com os trotes, mas existem também os que não aprovam nada, aqui em Portugal muita gente não é a favor da praxe ou do traje. O que faz surgir apelidinhos carinhosos aos doutores, como "morcegos", "harry potters", "da capa"... e por aí vai! 

Espero que tenham gostado de conhecer um pouco disso, porque isso tudo aqui é a própria essência do que é ser universitário em Porto!

Beijos, Giu

Comentários
4 Comentários

4 comentários :

  1. So tenho a dizer que este post esta fantastico.
    Muito bem

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    1. Oi Anônimo! Mesmo com atraso, muito obrigada! É bom escrever sobre algo que a gente vivenciou com tanta intensidade :) beijo!

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  2. Muito Bom Post :).
    Contêm algumas incoerências, normal de quem não anda em Praxe, mas muito bom trabalho :).
    Os Doutores é que andam Trajados, os Veteranos, podem ou não andar, e o Traje é académico, portanto não é ser necessário andar em Praxe para usa-lo, mas regra geral só o usa quem anda em Praxe :D.

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    1. Oi Anônimo!
      Obrigada pelo comentário. Eu observei bastante e, como sei que as pessoas são bastante reservadas para falar sobre os costumes, via uma barreira aí. Mas morei com uma portuguesa que participou e me disse que, realmente, caso a pessoa queira, pode vestir o traje, mas que ninguém iria "aprovar"... enfim, regritas, né? hehe beijo!

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