quinta-feira, 29 de março de 2012

Hostel em Florença: Quando o barato sai caro



Florença em panorâmica. (foto de descobriritalia.com)

A maioria dos intercambistas que começa a se programar para viajar aqui pela Europa se preocupa em ir para os lugares mais legais, não perder as melhores atrações de cada cidade, conhecer o máximo de gente possível e fazer tudo que aparecer, só para poder dizer e realmente sentir que viveu completamente a experiência de ser um intercambista. Maaaas, a maior preocupação de todos é sempre, sempre, sempre economizar o máximo que der. Alguns tem a famosa e querida and generosa bolsa do Santander, outros tem algum tipo de apoio que a própria faculdade dá, e outros vivem com a mesada dos papais. Seja lá qual a categoria em que as pessoas se encaixem, pode ter certeza que todos os ouvidos são muito bem treinados para fisgar, em qualquer conversa num raio de cinco metros, coisas do tipo: "tenho um amigo lá", "nessa cidade tenho casa", "vou ficar de graça", ou mesmo "sei de um lugar bom e barato".

E foi assim que eu fui parar num hostel que até hoje quando eu me lembro, ainda dá vontade de sair correndo, não importa aonde eu esteja!... Tudo bem que não ouví ninguém recomendando, mas a versão online do "raio de 5 metros" acaba sendo o Trip Advisor, Hostel Bookers, Hostel World etc. Realmente, essas ferramentas funcionam na maioria das vezes, e pra mim essa foi uma das pouquíssimas experiências ruins com alojamento em lugares desconhecidos. 

Pois é, mas não teve jeito: tive um azar dos "bons". Nessa onda de economizar, encontrei um hostel em Florença, na Itália, com quartos a 8 a noite! Que maravilha, não é mesmo? Eu pensei comigo mesma "Ahhh, tudo bem que é pra dividir quarto com mais oito pessoas, sou intercambista, vou socializar e fazer muitos amigos, uhul!". Pra começar ou acabar com toda essa animaçÃaAoaO, assim que cheguei no hostel, já tive que subir seis lances de escada, com uma mochila de 15 quilos nas costas. Fui recebida pelo dono do hostel, que me disse "Olha, o quarto que você ficaria está ocupado, então vou te colocar em outro com menos pessoas e talvez depois você tenha que trocar, ok?". Ele foi super simpático e tudo, perguntou se o quarto estava bom. E sim, nessa primeira noite tive sorte, fiquei num quarto com dois casais uruguaios que eram bem tranquilos e legais, apesar de ter pago para ficar num quarto de nove pessoas. Yey, primeira parte do socializar: done! 

No entanto, tinha um detalhe que eu também só fui perceber na manhã seguinte. O hostel foi adaptado de um apartamento comum, ou seja, num espaço feito para 5 pessoas, havia pelo menos 30 e a estrutura ainda era de uma casa, leia-se falta de banheiro. Aham, para 30 pessoas havia só 2 chuveiros e 2 privadas. Vou pular a parte dos apelos na fila do banheiro quando rolavam festas no hostel #freesangria. Além disso, o hostel tinha um lock out, das 10 da manhã até as 5 da tarde todos tínhamos que sair, pois nesse horário eles faziam a limpeza do local. Assim, imagina um hostel que faz festa com bebida a vontade + pessoas bêbadas usando o banheiro assiduamente + mochileiros = IMPOSSÍVEL ENTRAR NO BANHEIRO DE MANHÃ. 

Então eu bolei um plano: todo dia eu acordava, tomava café da manhã em alguma padaria, escovava meus dentes lá (juro que não rolava no hostel, gente), e passava o dia entre sorvetes, pizzas e 'Michelangelo's' espalhados pela cidade, e assim que dava as 5 da tarde, eu já estava de volta no hostel pra poder ser a primeira a tomar um banho digno com banheiro limpo. Não me julguem, gente, porque nessa vida de viajante, já temos que abrir mão de muita coisa com a qual estamos acustumados e que fazem nosso dia-a-dia mais confortável. Já que não dá pra ter aquele sapato que combina com aquela calça, ou carregar o secador de cabelo pra todo lado, e cuidar do cabelo do jeito que eu gosto, pelo menos um banho decente eu me dou o direito, e isso só rola com banheiro limpo e água quente, né?

Bom, voltando ao meu quarto! No meu segundo dia no hostel, o dono veio falar comigo e disse que eu ia precisar trocar de quarto e ir para o de nove pessoas mesmo. Pensei, "Ah, legal, tranquiiiilo...", e foi mesmo legal e tranquilo até o momento em que o quarto não estava totalmente preenchido. Assim que as nove camas foram ocupadas por oito homens e eu me tornei a única ~lady~ no lugar, ai meu deus, que situação. Dois egípcios, três australianos, um inglês, um irlandês, um italiano e um cheiro inexplicável dividiam o quarto comigo. Sorte de vocês que eu não sou uma pessoa que sabe descrever as notas de cada 'aroma', ou de onde vêm as fragrancias, porque, olha, nesse caso, seria um estudo triste interessantíssimo saber o que compunha o 'cheirinho' de cada um deles. Mas acho que não é necessário ir tão longe, a fórmula provavelmente era bem simples, do tipo um saco de roupas sujas, somado ao suor acumulado, multiplicado pelo tempo que todos eles já estavam fora de casa, que certamente era igual ou maior que o meu, quinze dias.


Indo de Vênus a Dona Jura em uma noite

Com excessão dos dois egípcios e o italiano, todos os outros chegavam bêbados no meio da noite, e obviamente não se importavam de se trocar ali no meio do quarto e tal. Ok, eu sei, eu sei, vocês podem pensar "mas Giu, você também tinha que estar curtindo e chegando bêbada no meio da noite, ao invés de ficar de mimimis", mas acontece que eu sempre escolho um lugar pra take it easy e recobrar as energias, e já que Florença não é o lugar com as melhores baladas e tal, pra mim estava de bom tamanho tomar umas cervejas em um pub e ficar vendo futebol na TV, enquanto a neve caía lá fora. Mas também não era só isso de chegarem tarde, sabe. É que tinha um festival de ~flatulências~ no quarto, acho que era meio involuntário, já que depois de um tempo geral estava dormindo, e tudo bem, eu entendo que todo mundo faz isso, só que estar acordada justamente porque não conseguia dormir no meio daquela pirofagia toda não era tão divertido pra mim, que pensava que aquela seria uma cidade lembrada pela quantidade de arte e beleza espalhadas pelas ruas. Ao invés de me ver como a própria "Vênus" do Botticelli, tava me sentindo a Dona Jura, tendo que rir da situação e mentalizando "néééé brinquedo, não..."

Depois de três noites ficando naquele quarto não fiz muito progresso na minha socialização, porque, embora todos os meninos fossem educados comigo e tal, eles não iam conseguir negar sua própria natureza e tentar ser um pouco mais organizados e limpos, então eu ficava bem irritada toda vez que entrava naquele quarto. A única pessoa com quem eu conversei um pouco foi com o italiano, que na verdade era um funcionário do hostel e morava no quarto. Ele me contou que já tinha morado no Brasil para jogar futebol, então gostava de falar português e contar da vida que levava. Isso acabou sendo útil no fim, porque na minha última noite começou a fazer muuuuuuuito frio, aí ele pegou um cobertor a mais pra mim, coisa que ninguém mais ganhou! #BraziliansWins Hahahaha Lembro de um dos meninos australianos falando pro amigo, achando que eu estava dormindo, "Por que ela é a unica com dois cobertores?". - PORQUEEE???? PORQUEEE??? OH MEU DEUS, COMO SE EU NÃO MERECESSE!

Moral da história: pense duas vezes antes de economizar em absolutamente tudo. Ter pago uns €5 a mais por noite não teria me feito mais pobre, embora tenha me proporcionado boas histórias pra contar :) 

Se alguém quiser saber o nome do Hostel, me pergunta depois pelos comentários! E alguém sabe de algum lugar tipo "NÃO SE APROXIME"???
Beijos, Giu

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