quinta-feira, 28 de maio de 2015

Um dia na Fazenda Benedetti

Dizem que antes de você querer desbravar o mundo, viajar por aí, nada melhor do que conhecer sua própria cidade ou região bem. Aquela coisa, para ser global, seja local. Conheça sua própria aldeia. E isso é a pura verdade. Confesso que só comecei a conhecer muita coisa em volta de Campinas depois que iniciamos o Quintal da Cachaça, clube de assinatura de cachaça que "me dá a desculpa" de ir de norte a sul do país em busca de belos alambiques! 

Nesse tempo, uma das surpresas que tive enquanto "descobria minha aldeia" foi a Fazenda Benedetti, de Amparo. Já é a quarta geração de família que está a frente da fazenda, produzindo cachaça, vinho, suco de uva, doces caseiros e alguns embutidos. Hoje, eles têm duas marcas de cachaça, a Flor da Montanha e a Gran Nono (até já tivemos a Flor da Montanha no clube!)

Como o negócio é todo familiar, você meio que se sente parte da família quando vai lá, porque tem primo, tio, esposa, todo mundo trabalhando ali – e isso deixa o clima tão gostoso! O nome "Benedetti", se ainda não deu para perceber, é italiano, de Trento, mais exatamente. A família veio para o Brasil no final do século 19, e desde que conseguiram um pedaço de terra, começaram a cultivar café.

Da série: males que vêm para o bem. Ia tudo bem até que estourou a crise do café, em 1929. Um dos clientes não conseguiu pagar uma dívida e, em troca, deu um alambique para Antonio Benedetti, a quem todos chamam de vô quando te contam essa história lá na Fazenda. Bom, nessa altura, a cachaça já era um subproduto da cana-de-açúcar e a família sabia como produzir aguardente. A família passou a produzir a bebida para o consumo próprio e vender para os amigos, até que a cachaça ganhasse fama "de boa", como me contou o Matheus, um dos integrantes da família que está trabalhando pesado para fazer todo mundo provar da cachaça Benedetti!

O legal é que além de todo o passado, a Fazenda Benedetti que você pode visitar hoje é a mesma onde toda essa história aconteceu! Ainda tem a casa grande, o terreiro para secar o café, e a família está com um projeto de transformar toda a fazenda em um museu, já que tudo lá tem história. Ah, e, claro, você pode provar a cachaça, NÉ!

A casa, o terreiro de café e, à esquerda lá no fundo, onde se moe a cana para fazer a cachaça

Na fazenda tem essa área de envelhecimento de cachaça, e a família tem barris de várias madeiras. Cada tipo de madeira dá um sabor diferente à bebida. Lá dentro o cheirinho é tão bom...

Tomando direto da fonte: vá e prove todas :D  







Belas garrafas! Ah, a Flor da Montanha agora tem essa embalagem nova – e agora também será vendida para fora do Brasil. Quando se produz uma cachaça, o ideal não é que a bebida não seja engarrafada logo de cara, logo que ela sai do alambique. Ela precisa de um tempo para descansar, tipo uns 6 meses – em geral, os produtores deixam a cachaça descansando em "barricas" de inox, que não passam gosto nenhum (e tudo bem!), mas lá na Benedetti, eles deixam essa cachaça em barris de Amendoim (a árvore, não a leguminosa). O Amendoim não interfere taaanto assim na bebida, mas dá um toque especial e deixa a cachaça mais suave, de um jeito que ela "não desce queimando". Bom, depois que a cachaça passou esse tempo na madeira, eles ainda transferem ela para um outro barril, agora de Jequitibá (e que fica naquela sala que da foto ali de cima)! O Marcos, que é quem cuida dessa parte lá na Fazenda, tem feito umas "receitas" interessantes nessa sentido! O mais legal é que cada madeira vai dando um sabor diferente – por isso é tão difícil encontrar duas cachaças iguais!

A garrafa da esquerda é uma cachaça adoçada armazenada em tonéis de Carvalho, que eu ainda não provei, mas estou curiosa! O Carvalho tem um sabor bem marcante, e nunca tomei uma cachaça armazenada em Carvalho e adoçada. Cachaças adoçadas, geralmente, são aquelas mais licorosas, que têm frutas na composição, maaais ou menos do tipo da canelinha (famosa Gabriela). Como o whisky também é envelhecido em Carvalho, quem gosta da bebida, tende a gostar de cachaças armazenadas em Carvalho, já que a madeira fica beeem perceptível no sabor da cachaça.

Mas tô dizendo que tem história: durante uma reforma, que aconteceu faz pouco tempo, a família encontrou essa maleta em um dos cômodos da casa. Uma relíquia! Dentro tem vários documentos de compra e venda de mercadorias, clientes que compravam café, tudo registrado e organizadinho!


Também sei de um projeto deles de reativar um espaço de almoço e jantar maravilhoso, com vista para as montanhas. Me chamem pro primeiro happy hour! #euvou.


a vista!
Ah, e se você não gosta de cachaça, ou não gosta de beber, ainda assim, eu recomendo muito passar o dia na Benedetti e conhecer o pessoal e a fazenda! Vale muito a pena!

Fazenda Benedetti
Circuito das Águas - Rodovia Amparo/Serra Negra
SP-360 KM 138
Bairro dos Almeidas, Amparo.
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